janeiro de 2023 Anton Tchékhov Anton Pavlovitch Tchekhov foi um médico, dramaturgo e escritor russo. Nasceu a 29 de janeiro de 1860, em Taganrog, Rússia, e faleceu, prematuramente, em 1904, na região da Floresta Negra, na Alemanha, vítima da tuberculose. Tchékhov foi inovador no mundo das letras e na arte dramática - considerado um dos maiores contistas da era moderna e um grande renovador do drama. Produziu uma imensa coleção de autênticas joias literárias (centenas de contos, várias novelas, peças teatrais), das quais muitas se tornaram clássicos da literatura mundial. As suas obras foram traduzidas para mais de 100 línguas. Os temas dos seus contos eram tradicionais na literatura russa, mas foram compreendidos e apresentados sob um novo ângulo – não com um intuito de gerar simpatia ou compaixão, mas na forma de humor suave ou de piada, que provoca um sorriso, inspirando-se na vida, tal como ela é. As suas histórias respiram realidade, revelando-se ao leitor todos os vícios do seu tempo: a hipocrisia, a corrupção, a carestia, a lisonja, a sabujice, a prepotência, disfarçados por ironia e sátira através dos seus personagens e situações cómicas. O dramaturgo formulou o seu objetivo cénico da seguinte maneira: "Tudo no palco deve ser como na vida: as pessoas almoçam, bebem chá e, ao mesmo tempo, arruínam as suas vidas." Dois tipos sociais despertaram o maior interesse de Tchékhov: o "pequeno homem" familiar à literatura russa, mas já progredido na vida que, além do famoso capote, possui uma casa bastante boa e abastança, bem como o "herói intelectual", não sobrecarregado com problemas financeiros, mas com a sensação de que se encontra num "beco sem saída". As personagens de Tchékhov são pessoas adoráveis, gentis, honestas e deveras inteligentes. Falta-lhes apenas uma coisa: a capacidade e o desejo de refletir, de conhecer a si próprio e o mundo. Em vez de uma série de heróis reflexivos que aspiram dirigir não somente a sua vida, mas também a dos outros, revelam-se heróis-figurantes que não entendem nem tentam entender a marcha dos acontecimentos. Anton Tchékhov, o mestre das narrativas curtas, não escreveu nenhum romance, apenas contos, novelas e ensaios jornalísticos de excelente qualidade literária. O seu credo literário era "a concisão é irmã do talento". Ao mesmo tempo, as obras de Tchékhov podem ser chamadas de "enciclopédia da vida russa quotidiana no final do século XIX". Os temas dos seus contos e novelas são inesgotáveis e as personagens encarnam características típicas de todos os grupos sociais da Rússia. Merecem uma atenção especial os seguintes contos e novelas: A Morte do Funcionário, A Estepe, Uma História Enfadonha, O Duelo, Enfermaria nº 6, A História de um Desconhecido, Camponeses, O Homem no Estojo, A Dama do Cachorrinho, No Barranco, A Criançada, Drama na Caça, A Ilha de Sacalina, entre outros. A obra de Anton Tchékhov como dramaturgo não é menos importante: as nove peças de um ato – Na Estrada Real, Os Malefícios do Tabaco, O Canto do Cisne, O Urso, O Pedido de Casamento, A Boda, Tatiana Répina, O Trágico à Força, O Jubileu – bem como as cinco "de grande formato" – Ivánov, A Gaivota, O Tio Vânia, As Três Irmãs e O Cerejal / O Ginjal – são verdadeiras obras-primas da dramaturgia e já há mais de 100 anos que são encenadas em muitos teatros de todo o mundo. Tchékhov exerceu uma enorme influência sobre o desenvolvimento da dramaturgia, quebrando todas as regras que existiam antes. Ele criou uma dramaturgia que se desenvolve sem ação enquanto tal. Nas suas peças "de grande formato", a trama dramática, no sentido tradicional, não é o principal. Ele gostava de afirmar que "o enredo pode até não existir". A força motriz que dá impulso para o desenvolvimento da intriga e da ação nas suas peças torna-se a vida interior das personagens, que o autor considera essencial, a par da descrição da sua vida quotidiana trivial "regular, plana, comum, tal como ela é na realidade". Tchékhov inovou a linguagem cénica, deixando de ser o conteúdo do texto um dos elementos principais das peças. Foi acentuado não o que se diz, mas o modo como se diz e como se enuncia. Isto resulta no facto de os diálogos e monólogos das personagens de Tchékhov se basearem em reticências e alegorias, o que, por sua vez, gera subtexto que é a única coisa que importa na sua dramaturgia. Interação entre texto real e subtexto, como a interação dos polos externo e interno no conflito é o verdadeiro enredo do teatro tchekhoviano. O dramaturgo formulou o seu objetivo cénico da seguinte maneira: "Tudo no palco deve ser como na vida: as pessoas almoçam, bebem chá e ao mesmo tempo arruínam as suas vidas." Na herança dramática de Tchékhov atraem uma atenção especial as peças de um acto, sendo a maioria cómica e satírica. A sua principal diferença é que elas não são comédias de situação, mas comédias de caracteres. Os heróis das miniaturas dramáticas de Tchékhov não são as personagens convencionais, mas representantes de um determinado meio social, dotadas de características individuais da natureza humana. Tchékhov foi um intelectual de primeira geração: o seu avô foi um servo de gleba, o seu pai um pequeno comerciante. Mas na história da cultura russa, o seu nome tornou-se sinónimo de inteligência, boa educação e refinamento. Tchékhov trabalhou como médico durante a maior parte da sua carreira literária e numa das suas cartas ele escreveu o seguinte a este respeito: "A medicina é a minha legítima esposa; a literatura é apenas minha amante". Fonte: Universidade de Coimbra | Centro de Estudos Russos https://www.uc.pt/fluc/depllc/CER/centro_de_estudos_russos/cerartigos/cerartigo02 Voltar!