julho de 2023 Emily Brontë Emily Brontë nasceu a 30 de julho de 1818, em Thornton, no Yorkshire, Inglaterra, e morreu, apenas com 30 anos, a 19 de dezembro de 1948, de tuberculose, doença que já matara, meses antes, o seu irmão. Filha de Patrick Brontë, nomeado pároco vitalício em Haworth, foi criada com os seus irmãos Charlotte, Anne e Patrick Branwell pela tia, Elizabeth Branwell. A família constituía um grupo fechado e isolado, e os quatro irmãos sentiram, desde a infância, motivação para o estudo e para a composição literária. Escreveram contos, histórias fantásticas, poemas, jornais, folhetins e editaram uma revista mensal. Das três irmãs Brontë, Emily é aquela sobre a qual menos se sabe, além de ter tentado ser professora, que viajou até Bruxelas, escreveu algumas dezenas de poemas e um único romance, O Monte dos Vendavais, obra intensa sobre uma paixão capaz de sobreviver até depois da morte e que é uma das melhores da história da literatura inglesa. Mas, se a sua vida parece mais ou menos certa, a sua personalidade não o é, permanecendo muitas dúvidas e mitos, devido à falta de material original para a retratar fielmente. Segundo Claire O’Callaghan, «existe literalmente uma mão cheia de notas descuidadas, alguns esboços, quatro ‘Diários’ que escreveu com Anne, [dois anos mais nova do que ela,] uma mão cheia de ensaios que escreveu durante a sua estadia na Bélgica (conhecidos como devoirs) e os objetos da sua secretária para refletirmos sobre eles». A maioria dos seus manuscritos perdeu-se ou foi destruída, havendo quem sugira que foi Charlotte que, na ânsia de construir a imagem das irmãs que considerava correta, terá queimado os papéis de Emily. Estes «itens preciosos, a base sobre a qual assenta o seu legado literário», constituem «todo o material primário» que existe sobre Emily e é com eles que «qualquer biógrafo tem que trabalhar». A informação é tão escassa que ninguém consegue dizer, ao certo, qual era a sua aparência. A par de algumas vagas descrições, feitas por quem a conheceu pessoalmente, existem apenas dois retratos “oficiais”, que foram considerados autênticos pela Brontë Society, responsável pela gestão do património das três irmãs: o “Pillar”, a famosa pintura de 1834 que mostra Charlotte, Emily e Anne lado a lado; e o chamado “Gun Group”, obra produzida, provavelmente, à volta da mesma data. As duas pinturas são da autoria de Patrick Branwell, o único filho de Patrick Brontë que tinha ambições literárias e que gostava de pintar. Dos dois retratos, o “Gun” é o mais curioso. Apesar de ter sido originalmente uma pintura das três irmãs, conhece-se dela apenas uma parte, que se acredita conter uma representação de Emily (há, porém, quem defenda tratar-se de Anne). O resto do quadro foi destruído por Arthur Bell Nicholls, marido de Charlotte, que achava tratar-se de uma má representação da família. Mal conservadas e de fraca qualidade, as duas pinturas pouco dizem sobre Emily. Além destas, as poucas descrições fidedignas dela — nomeadamente a que foi feita pela grande amiga de Charlotte, Ellen Nussey, num artigo publicado na revista ilustrada Scribner’s Monthly, em 1871 — permitem apenas saber que tinha o cabelo castanho, provavelmente ondulado, e que os seus olhos, “gentis”, eram claros, cinzentos ou azuis. Não existem fotografias dela, nem das suas irmãs, ainda que, de vez em quando, surjam alegadas imagens de Charlotte, Emily e Anne. Foi para contrariar diversas suposições indocumentadas que Claire O’Callaghan, professora da Loughborough University, Inglaterra, decidiu escrever a já citada biografia sobre esta escritora inglesa: Emily Brontë Reappraised. A view from the twenty-first century (ed. Saraband, 2018), que «revisita algumas das ideias dominantes que se formaram sobre Emily e as lê de uma nova forma, do ponto de vista do novo milénio», trazendo à luz uma personalidade teimosa ao ponto de se prejudicar a si própria, com um espírito selvagem, indomável e uma vontade de ferro; era tão antissocial que parecia sofrer de uma fobia e preferia a companhia dos animais — sobretudo do seu cão, Keeper — à dos humanos, o silêncio dos campos ao barulho da grande cidade. Houve quem dissesse que era mística, louca e, até, quem a acusasse de ser uma fraude literária, já que a sua obra-prima teria sido escrita pelo irmão Branwell, e não por si. Tudo isto porque era mulher e um enigma para muitos. Em Emily Brontë Reappraised, O’Callaghan tentou separar o trigo do joio, a verdade das muitas possíveis mentiras. E, mais do que isso, tentou perceber se a poetisa e romancista de Yorkshire foi de facto «um mistério no seu próprio tempo», ou se essa aura misteriosa, que persiste até aos dias de hoje, se deve, simplesmente, ao facto de ter sido «uma mulher à frente do seu tempo», que os seus contemporâneos tinham dificuldade em entender. Talvez agora, em pleno século XXI e à luz da «cultura contemporânea», seja, finalmente, possível saber quem foi Emily Brontë. Fonte: https://observador.pt/especiais/200-anos-depois-quem-e-emily-bronte/ + https://www.wook.pt/autor/emily-bronte/14625 Voltar!