fevereiro de 2022 António Aleixo O poeta António Aleixo – que nasceu em Vila Real de Santo António, no Algarve, a 18 de fevereiro de 1899 – foi cauteleiro e guardador de rebanhos, cantor popular de feira em feira e um caso singular, bem digno de atenção de quantos se interessam pela poesia. Embora não totalmente analfabeto – sabia ler e leu meia dúzia de bons livros – não era capaz, porém, de escrever com correção e a sua preparação intelectual não lhe deu, certamente, qualificação para poder ser considerado um poeta culto. Todavia, há nos seus versos uma correção de linguagem e, sobretudo, uma expressão concisa e original de uma amarga filosofia, aprendida na escola impiedosa da vida, que não deixam de impressionar. Além disso, o tom sentencioso da maior parte das suas quadras e o facto de serem produto de uma espontaneidade quase inacreditável para quem não conheceu pessoalmente o poeta, justificam que se conheça a sua obra e que esta esteja registada em livro, em várias edições. António Aleixo compunha e improvisava nas mais diversas situações e oportunidades. Umas vezes cantando numa feira ou festa de aldeia, outras a pedido de amigos, ora aproveitando traços caricaturais de pessoas conhecidas, ora sugestionando por uma conversa de tom mais elevado. De todas as maneiras, passeando, sozinho, a guardar as cabras ou a fazer circular as cautelas de lotaria – a sua mais habitual ocupação – ou acompanhado por amigos, numa ceia ou num café, o poeta está sempre alerta e lá vem a quadra ou sextilha a fixar um pensamento, a finalizar uma discussão, a apreciar um dito ou a refinar uma troça. E a forma é lapidar, o conceito incisivo e o vocabulário justo e preciso. Os motivos e temas de inspiração são bastante variados. Note-se, porém, que não fere, com a habitual pieguice sentimental lusitana, a nota amorosa. E isto é bastante singular; uma ou outra pequena composição com esse carácter lírico foi quase sempre, de certeza, de inspiração alheia ou a pedido de qualquer moço amigo. O que caracteriza a poesia de António Aleixo é o tom dorido, irónico, um pouco puritano de moralista, com que aprecia os acontecimentos e as ações dos homens. E, no fundo, muito embora não seja um revoltado, é a chaga aberta de um sofrimento íntimo, provocado por certas injustiças, a fonte dos seus desabafos. Com efeito, não pode ser mais pessoal e mais subtilmente dada a dor de um homem que tem mulher e filhos a sustentar com o mísero ganho de meia dúzia de cautelas por semana e vê todos os dias ir morrendo, sem possibilidade de assistência cuidada, uma filha tuberculosa: Quem nada tem, nada come; E ao pé de quem tem comer, Se alguém disser que tem fome, Comete um crime, sem querer. Primavera de 1943 (…) Graças a um intelecto poderoso, António Aleixo conseguiu trabalhar as palavras ultrapassando a sua formação académica bastante rudimentar e as múltiplas limitações da sua saúde vacilante. Uma situação a que se refere uma das suas ultimas quadras: Quando em mim penso com calma E me compreendo melhor Bem merecia que a minha alma Tivesse um corpo maior Inverno de 1999 Minado há anos pela doença, entre 1943 a 1949permaneceu no Sanatório dos Covões, em Coimbra, com curtas visitas à família, até que, no outono de 1949, faleceu vítima da tuberculose. Morreu António Aleixo, mas o poeta ficou… Obras Completas QUANDO COMEÇO A CANTAR… – 1ª edição, Faro, 1943; 2ª edição, Coimbra, 1948; 3ª edição, Lisboa, 1960 INTENCIONAIS – 1ª edição, Faro, 1945; 2ª edição, Lisboa, 1960 AUTO DA VIDA E DA MORTE (1 acto) – 1ª edição, Faro, 1948; 2ª edição, Faro, 1968 AUTO DO CURANDEIRO (1 acto) – 1ª edição, Faro, 1949; 2ª edição, Faro, 1964 ESTE LIVRO QUE VOS DEIXO… Volume I, 18ª edição, Lisboa, 2003 ESTE LIVRO QUE VOS DEIXO…Inéditos – Volume II , 13ª edição, Lisboa, 2003 INÉDITOS – 1ª edição, Loulé, 1978; 2º edição, Loulé, 1979 Fonte: https://fundacaoantonioaleixo.com/antonio-aleixo/ Voltar!